No Botequim
FREGUÊS —
Garçom, por favor. Eu quero um café com leite e rosquinhas.
GARÇOM —
O senhor vai me desculpar mas na tem mais rosquinhas.
FREGUÊS —
Ah? Não tem rosquinha?
GARÇOM — Não senhor.
GARÇOM — Não senhor.
FREGUÊS — Não faz mal. Então me dá um cafezinho
simples. Isso. Só um cafezinho. (pausa) Com uma rosquinha.
GARÇOM — Eu acho que não me expliquei direito. Eu
falei pro senhor que não temos mais rosquinha. Acabou toda a rosquinha.
FREGUÊS —
Ah bom. Se é assim, muda tudo. Acabou a .rosquinha?
GARÇOM — Acabou sim senhor?
GARÇOM — Acabou sim senhor?
FREGUÊS —
Então me traz um copinho de leite. Leite tem?
GARÇOM —
Tem sim senhor.
FREGUÊS —
Beleza. Me traz um copo de leite. Com uma rosquinha.
GARÇOM — Eu disse que não tem mais rosquinha! Torrada
tem; rosquinha não tem! Há três anos que não tem rosquinha!
FREGUÊS — Calma, o senhor também não precisa ficar
nervoso. Não tem, não tem. Eu peço outra coisa. Eu não sou difícil pra comer.
Eu tomo o que o senhor quiser. Chocolate, chá, sei lá. Chá o senhor tem?
GARÇOM —
Tenho sim senhor.
FREGUÊS —
Garçom, por favor. Eu quero um café com leite e rosquinhas.
GARÇOM — Eu já disse que eu não tenho rosquinha!
Faz o seguinte. Vai em outro boteco. Não me enlouquece. Vai em outro boteco!
FREGUÊS — Não, pode deixar. Vamos mudar tudo. O que
eu não quero é que o senhor se aborreça. Em vez disso me dá uma coisa que
alimente mais. Totalmente diferente. Uma coalhada. Taí. Uma coalhada. Coalhada
tem?
GARÇOM —
Tem.
FREGUÊS —
Tem mesmo?
GARÇOM —
Tem.
FREGUÊS —
Vê lá, heim? Não vai me fazer mudar o pedido de novo à toa.
GARÇOM —
Eu já disse que tem! O senhor vai querer ou não?
FREGUÊS —
Vou querer ou não, o quê?
GARÇOM —
A coalhada!
FREGUÊS —
Claro que sim. Acho ótimo. Uma coalhada (pausa). Mas não esquece da rosquinha.
GARÇOM —
O senhor é maluco, é? Não tem rosquinha! Não tem rosquinha!
FREGUÊS —
Ta bom, ta bom. Não precisa gritar. Traz só a rosquinha, pronto.
FREGUÊS 2 (que está na mesa ao lado) — Escuta
aqui. O senhor quer enlouquecer o garçom, é? Há dez minutos que eu estou
ouvindo essa sua conversa doida e eu juro que não sei como ele está agüentando!
(Para o garçom) Olha, não liga pra esse maluco não. Traz logo essa porcaria
dessa rosquinha e manda ele embora.
Jó Soares
1. Quando
você leu o título do texto, que ideias imaginou que seriam apresentadas?
2. Este texto foi escrito como se fosse para
ser encenado.
Quais as características que comprovam esta
afirmação?
3. Por que o texto pode ser considerado
humorístico?
4. Se você estivesse no lugar do garçom, o que
faria?
5. Na sua opinião, por que o garçom tem tanta
paciência com o freguês?
6. Se o garçom ignorasse o pedido do freguês e
trouxesse fatias de bolo,
o que
você acha que aconteceria?
7.
Observe:
"Ah! Não tem rosquinha?"
"Tem mesmo?"
"A coalhada!"
"O
senhor é maluco, é? Não tem rosquinha! Não tem rosquinha!!"
O que a
repetição do pedido da rosquinha provoca no leitor?
Crônica é um gênero literário produzido essencialmente para ser veiculado naimprensa,familiaridade entre o escritor e o leitor, onde se falam fatos comuns que acontecem no dia-a-dia das pessoas. No fundo, autores de [ crônicas], levantam discussões sobre a importância do trabalho na vida das pessoas, sobre a incompetência dos governos em resolver o problema do desemprego, etc.
Características: - A crônica é uma narrativa.
Em resumo, podemos determinar dois pontos:
- Normalmente possui uma crítica indireta.
- Muitas vezes a crônica vem escrita em tom humorístico.
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